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Líderes europeus tentar resistir aos ventos da extrema-direita


O presidente francês Emmanuel Macron está convencido de que combater o desemprego é a melhor forma de conter o apoio da extrema-direita. É esta, pelo menos, a ideia de base que levou a agência Reuters a realizar uma reportagem junto de duas mega-fábricas de veículos elétricos instaladas algures na região de Dunquerque. E descobriu que parece que isso, o aumento do emprego, não é suficiente.

É que os enormes projetos não são suficientes, conta a reportagem, para convencer pessoas como Killiams Pierron a deixarem de apoiar os nacionalistas de Marine Le Pen nas eleições de Junho para o Parlamento Europeu. É que ninguém conseguiu ainda esquecer o aumento dos preços dos alimentos, do aquecimento e de outros bens essenciais.

“Pão, queijo, manteiga, tudo acabou”, disse o operário à Reuters enquanto viajava num dos autocarros gratuitos da região e mostrava pão de presunto e queijo que, segundo disse, triplicou de preço, para 4,40 euros. Depois de três anos de inflação elevada, não há milagres.

“Em algum momento, é preciso começar a pensar nos franceses antes de pensar nos outros”, disse, argumentando que Macron deveria priorizar questões internas, como habitação a preços acessíveis, em vez de insistir no apoio à Ucrânia em guerra ‘deles’ contra a Rússia.

“A raiva pela queda dos padrões de vida é partilhada por milhões de europeus e deverá prejudicar o apoio aos principais partidos na votação de 6 a 9 de junho para os 720 lugares da assembleia da UE, que ajuda a definir as políticas das 27 nações do bloco”, refere a reportagem.

Desde as últimas eleições em 2019, a economia europeia tem enfrentado paralisações, devido ao Covid-19 e à crise do custo de vida que foi desencadeada por um aumento global da inflação e agravada pelos picos dos preços da energia provocados pela guerra na Ucrânia.

O apoio estatal maciço às famílias e às empresas ajudou a evitar uma recessão profunda, mas – tal como nos Estados Unidos, onde dados económicos robustos não estão a ajudar a candidatura do presidente Joe Biden a um novo mandato – os titulares da Europa receberão poucos agradecimentos por isso.

“É extraordinário como a Europa se manteve unida durante estes enormes choques”, disse Jeromin Zettelmeyer, diretor do instituto económico Bruegel, com sede em Bruxelas, citado pela agência norte-americana. “Mas esta história de resiliência não é algo que nos deixa otimistas. Há uma sensação de declínio.”

Atualmente, os principais partidos, que dominam tanto no Parlamento Europeu como a maioria dos governos nacionais, partilham a visão de uma economia aberta ao comércio com o mundo, à medida que avança com uma transição verde. Mas esse consenso, refere a reportagem, está em perigo, à medida que mais europeus concluem que o ambiente económico não está a funcionar para uma larga camada da população.

No ano passado, a produção europeia conseguiu crescer modestos 0,5%, com o desemprego ancorado em mínimos históricos de 6,5%. ”Mas se aprofundarmos mais, os dados mostram como milhões de europeus – incluindo muitos que têm emprego – estão a debater-se com finanças esgotadas”.

À medida que a inflação disparou em 2022, para atingir quase 11%, os salários não acompanharam. Como resultado, a média das famílias europeias viu o seu rendimento disponível diminuir 2% ao longo do ano, com os grupos de baixos rendimentos a serem mais duramente atingidos, mostram os dados da UE. Resta saber, diz a reportagem, se o esforço do Estado em promover o investimento público – num quadro em que o investimento privado está historicamente baixo, vai ser suficiente para calar o apelo da extrema-direita. Nada que não esteja a suceder precisamente nos Estados Unidos.



Fonte: Economico – Politica

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