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Fitch atira banco polaco do BCP para lixo. Perspetiva estável



A agência de rating Fitch desceu a classificação do Bank Millennium (detidos em 50,1% pelo BCP) em dois graus de ‘BBB-‘para ‘BB’, ou seja para “lixo”. O Outlook é estável.

Sem surpresas, os prejuízos, as provisões para os créditos em francos suíços e a deterioração do rácio de capital devido às novas moratórias são o motivo da descida do rating.

Além disso, foi criado um Fundo de Proteção Institucional (IPS, na sigla em inglês) para assegurar a estabilidade do setor e que exigiu a contribuição de 54,3 milhões de euros por parte do Bank Millennium.

Tal como avisou Miguel Maya, CEO do BCP, na última apresentação de resultados, “o banco na Polónia vai apresentar prejuízos no terceiro trimestre”, com o rácio de capital “CET1 a cair entre 118 e 174 pontos, ficando abaixo dos requisitos”, afirma Miguel Maya, CEO do BCP, na apresentação dos resultados para o primeiro semestre.

Perante o risco de registar rácios de capital abaixo dos requisitos regulamentares o Millennium Bank decidiu ativar o plano de recuperação.

A Fitch baixou esta sexta-feira a classificação de Viabilidade (VR) do banco de ‘bbb-‘ para ‘bb’ e a classificação nacional de longo prazo para ‘BBB+(pol)’ quando era de ‘A(pol)’. A descida em dois notchs do VR e do Long-Term Issuer Default Rating (IDR) reflecte a erosão do rácio de capital CET1 para 12,1% no final de primeiro semestre quando era de 15,6% no final do semestre homólogo do ano anterior. Descida essa impulsionada por resultados líquidos negativos e outras rúbricas de receitas negativas.

A agência lembra que antes já tinham considerado que a descida para abaixo de 13,0% era um gatilho para uma potencial descida do rating.

A Fitch “espera uma nova erosão significativa do capital no 3º trimestre, o que levará ao incumprimento do requisito combinado de almofada de capital e ao lançamento do plano de recuperação do banco. A erosão de capital será predominantemente impulsionada pelas moratórias oferecidas pelo sector aos mutuários de hipotecas em zloty, cujo custo resultará numa grande perda trimestral e num resultado negativo para 2022 como um todo.

Recorde-se que o BCP disse que estimava que a aprovação do novo regime de acesso a moratórias para créditos à habitação em zlotys na Polónia poderá ter um impacto até 1.779 milhões de zlotys (368,6 milhões de euros). Este é o custo máximo estimado das moratórias caso 100% dos clientes elegíveis adiram à moratória. O banco explicou ainda que o recurso às moratórias não implica a reclassificação dos créditos para Stage 2 (exposições para as quais se observa uma degradação significativa do nível de risco de crédito desde o reconhecimento inicial).

O custo upfront das moratórias vai ser registado no 3.º trimestre deste ano, pressupondo uma taxa de adesão entre 75% a 90% (acima da média de mercado anunciada até à data de 66%).

O registo upfront do impacto estimado das moratórias deverá provocar que o Bank Millennium apresente resultados líquidos negativos no 3º trimestre. Consequentemente, os rácios de capital do banco polaco detido pelo BCP irão reduzir-se em aproximadamente 300 pb, estimando-se que rácio CET1 se possa reduzir entre 118-174 pb, “abaixo dos requisitos mínimos estabelecidos pelo Polish Financial Supervision Authority (PFSA)”.

Portanto, “é esperado que os níveis de capital se situem temporariamente abaixo dos requisitos mínimos regulamentares devido ao impacto do front loading do custo das moratórias, sendo expetável a sua recuperação num horizonte temporal não muito alargado”, disse o CEO do BCP em julho na apresentação das contas, ao mesmo tempo que disse estimar que sejam necessários mais de dois anos para o Bank Millennium repor os rácios.

A Fitch explica a queda do rating do Bank Millennium ainda com a descida de um ponto percentual da agência na classificação do ambiente operacional da Polónia de “bbb+” para “bbb”, reflectindo a vontade crescente das autoridades polacas de intervir no sector bancário e de impor grandes custos adicionais aos bancos.

“O Stable Outlook reflecte a nossa expectativa de que os rácios de capital do banco começarão a recuperar gradualmente a partir do 4º trimestre de 2022. O banco permanece estruturalmente rentável e beneficiará de taxas de juro mais elevadas e margens financeiras maiores, enquanto o impacto negativo das disposições legais sobre a carteira hipotecária em francos suíços, que conduziu a perdas em 2021 e no primeiro semestre de 2022, deverá diminuir gradualmente.

As classificações do Bank Millennium “reflectem pressões de capital que provêm predominantemente da sua exposição acima da média a produtos que se tornaram objecto de intervenção governamental ou judicial, com impacto negativo na rentabilidade reportada”.

Pela positiva, a classificação do banco polaco é suportada pela  sólida marca, por uma razoável rentabilidade core e pela qualidade dos activos, bem como por um forte perfil de financiamento e liquidez.

O Bank Millennium, controlado em 50,1% pelo BCP, já tinha reportado que a legislação aprovada em 7 de julho de 2022 introduziu um conjunto de medidas destinadas a apoiar os devedores em empréstimos hipotecários denominados em zlotys, “incluindo a possibilidade de suspensão até 8 prestações mensais de capital e juros (duas prestações em cada um dos 3.º e 4.º trimestres de 2022 e uma em cada trimestre de 2023); um empréstimo elegível por família destinado à habitação própria; créditos concedidos antes de 1 de julho de 2022); contribuição adicional de 1,4 mil milhões de zlotys para os clientes; um support und (FWK) – fundo para apoiar devedores em dificuldades; e a substituição da WIBOR como indexante principal para empréstimos”.

“O Conselho de Administração do Bank Millennium pretende aumentar os rácios de capital para níveis confortavelmente acima dos níveis regulamentares exigidos através da combinação da melhoria da rentabilidade operacional e iniciativas de otimização de capital, tais como gestão dos risk weighted assets (incluindo securitizações)”, revelou o BCP nas contas semestrais em Lisboa.

No primeiro semestre, o banco detido 50,1% pelo BCP e que consolida integralmente nas contas do banco português, baixou os prejuízos de 110,3 milhões de euros em junho de 2021 para 56,6 milhões de euros em junho deste ano. “Se não fosse o novo Fundo de Proteção Institucional (IPS), que apareceu agora, o banco na Polónia teria sido capaz de gerar resultados para acomodar o fortíssimo nível de provisionamento”, frisou o CEO do BCP que reafirmou a capacidade de o banco polaco “para enfrentar estas tormentas”.

As provisões extraordinárias relacionadas com créditos hipotecários denominados em francos suíços, de 1.014,6 milhões de zloty (218,8 milhões de euros), para riscos legais de créditos denominados em moeda estrangeira (excluindo empréstimos originados pelo Euro Bank), elevaram as provisões acumuladas para 36,3% da carteira hipotecária cambial originada pelo Bank Millennium.

O banco português voltou a dizer que o resultado líquido do Millennium Bank foi influenciado por encargos com riscos legais relacionados com os créditos em francos suíços concedidos pelo banco até 2008. O banco diz que o resultado foi influenciado por encargos de 252,2 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços. Este valor inclui provisões para riscos legais, custos com acordos extrajudiciais e consultoria legal relacionadas com a carteira de crédito  em francos suíços na Polónia.

O banco polaco controlado pelo BCP tem sido alvo de decisões desfavoráveis dos tribunais, que ordenam ao banco que pague indemnizações aos clientes, no seguimento de um processo na justiça sobre créditos concedidos até 2008 em moeda estrangeira. O BCP reportou que no segundo trimestre houve mais 1.554 novos processos em tribunal e 2.175 acordos extrajudiciais que representaram um custo para o banco polaco de 23,6 milhões de euros.



Fonte: Economico – Politica

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