às

Xcelerator. Siemens lança plataforma digital de negócios para acelerar transformação digital



A Siemens AG lançou esta quarta-feira em Munique (Alemanha) a plataforma Siemens Xcelerator. O projeto pretende ser uma plataforma digital de negócios aberta que permitirá acelerar o ritmo da transformação digital dos clientes e que se estende a todas as áreas de atuação da gigante alemã. A plataforma inclui soluções integradas para facilitar e escalar os processos de transformação digital, com aplicações ao nível da Internet of Things (IoT), software e sobretudo nos serviços digitais industriais – o próximo passo na estratégia da Siemens.

O Xcelerator quer solidificar o ecossistema de parceiros da Siemens e desenvolver um marketplace entre clientes que facilite interações e transações entre os mesmos. Além disso, está aberto a novos parceiros e programadores. “O Siemens Xcelerator vai facilitar cada vez mais o percurso das empresas na transformação digital”, diz o presidente e CEO da Siemens AG, Roland Busch. “Ao combinar o mundo real e digital ao longo de toda a tecnologia operacional e de informação, empoderamos os clientes e parceiros a potenciar a produtividade, competitividade e a escalar a inovação”, refere.

O objetivo da nova estratégia passa por facilitar interações e promover parcerias inovadoras entre players que, de outra forma, não teriam contacto. Durante a apresentação, o líder do grupo afirmou, mais do que uma vez, que este é o novo caminho da Siemens AG, um que será feito a longo-prazo e que transformará por completo o portfólio de hardware e software. Estes serão cada vez mais modulares, ligados à cloud e assentes em API estandardizadas, de forma a serem compatíveis dentro de qualquer ecossistema utilizado pelas empresas.

O lançamento da plataforma ocorre em simultâneo com o lançamento da mais recente parceria com a tecnológica norte-americana NVIDIA e na mesma semana em que o grupo alemão adquire a Brightly Software. “O nosso portfólio transforma-se no sentido de aplicações mais abertas, com mais soluções baseadas na cloud e as-a-service e com hardware de IoT que pode ser constantemente atualizado”, garante Busch, referindo ainda que a aposta na colaboração vai atingir um novo nível.

Um “metaverso para a indústria”

A parceria entre a gigante alemã e a NVIDIA vai permitir experiências imersivas e simulações hiperrealistas para clientes industriais utilizando o omniverso. É o início de uma relação “especial”, diz Busch, e de longo-prazo entre as duas empresas, mas uma fusão não está nos planos.

As primeiras imagens do omniverso da NVIDIA mostradas aos jornalistas esta terça-feira em Munique podem parecer apenas renderizações banais de alguns modelos 3D, mas entre eixos, texturas e luz está o fruto da parceria da Siemens e da NVIDIA, que sai reforçada: um metaverso exclusivo para a indústria. O NVIDIA Omniverse passa a estar integrado no Siemens Xcelerator.

A gigante alemã entra desta forma na corrida ao metaverso, um passo até então dado sobretudo por gigantes tecnológicas. A Siemens é atualmente a maior fabricante a nível europeu com um modelo de negócio cimentado na área dos transportes, equipamentos médicos, construção e infraestrutura, que fica agora reforçado com uma nova aposta no software e na automação industrial. O CEO da Siemens Digital Industrial Software, Tony Hemmelgarn, garante que esta é uma estratégia a longo-prazo, que acabará por moldar o futuro do próprio grupo, e que será feita ao lado da tecnológica norte-americana NVIDIA.

Na apresentação do projeto, Hemmelgarn chega a classificar a parceria como “muito especial” e não se compromete em estabelecer pontes semelhantes com outras empresas além da NVIDIA, mas também não descredibiliza essa hipótese. Ao Jornal Económico, fonte da Siemens AG descarta por completo a possibilidade de fusão ou aquisição da NVIDIA por parte do grupo alemão.

“A Siemens e a NVIDIA partilham uma visão comum de que o metaverso industrial vai comandar a transformação digital”, começa por dizer o fundador e CEO da NVIDIA, Jensen Huang. “Este é apenas o primeiro passo no nosso esforço conjunto de tornar esta visão real para os nossos clientes e para todas as partes da indústria de transformação. A ligação ao Siemens Xcelerator vai abrir o omniverso e o ecossistema IA da NVIDIA a todo um novo mundo de automação industrial que é feita utilizando as soluções mecânicas, elétricas, de software e IoT da Siemens”, acrescenta.

Na sua essência, a ideia é simples de explicar mas complexa na execução e, sobretudo, na tecnologia que vai exigir. Para simplificar, Tony Hemmelgarn dá o exemplo de um estaleiro naval. Imagine que quer construir um iate, da estrutura elementar aos acabamentos do convés e à cor das cordas. Ao invés de se encontrar com inúmeros fornecedores e pagar por protótipos e maquetas de elevado custo, será possível simular todo esse desenho no omniverso – assim designado porque permite colaboração a 100%.

As aplicações a partir daqui estendem-se a qualquer área industrial, garantem os representantes das duas empresas. Além de desenhar, a tecnologia de processamento permitirá simular realisticamente o funcionamento e eventuais falhas dos projetos. No motor de tudo isto está um processamento de gráficos sustentados por Inteligência Artificial, desenvolvido pela NVIDIA.

Foi preciso chegar a Allach, nos subúrbios de Munique, para ver a tecnologia em ação. Numa das maiores fábricas do grupo em solo europeu onde é produzida grande parte da frota ferroviária, uma sala indiscreta equipada com projetores e óculos de realidade aumentada é onde tudo acontece. Aqui, é possível modelar e navegar dentro dos modelos, desenhados à escala até ao último parafuso e porca.

Depois de visitado um modelo hiperrealista do Vectron, pisamos o interior de um modelo real, praticamente impossível de distinguir. As aplicações desta tecnologia, segundo o grupo, estendem-se a diversas indústrias como aeroespacial ou de equipamentos médicos (um dos trunfos da Siemens).

O espelho perfeito dos humanos

A NVIDIA tem dado passos assertivos na área da IA. Atualmente, mais de 25 mil empresas a nível mundial utilizam a IA da NVIDIA – a mesma que passa agora a comandar o funcionamento do omniverso ao nível da computação. No fundo, a testagem dos modelos inseridos no omniverso vão envolver pouca ou nenhuma intervenção humana. Será a IA a criar cenários hipotéticos e a testar os modelos para esses mesmos cenários. É a Lei de Murphy invertida: tudo o que poderia correr mal já foi equacionado e evitado.

Jensen Huang explica que o objetivo da empresa com a IA foi sempre de a tornar um reflexo perfeito do raciocínio e silogismo humanos. Dotá-la da capacidade de criar cenários e deixá-los correr, essencialmente retendo todas as aprendizagens dessas falhas. Mas o motor dessa mecânica intelectual é feita à imagem da esfera humana. “A IA aprende tal e qual como um bebé”, chega a afirmar.

Mas se a IA conseguirá replicar na perfeição o raciocínio humano, é correto assumir que a mesma poderá desenvolver viés, imagine-se, em função da raça ou género? Huang é rápido a justificar ao JE que sim, é possível, mas que no centro de tudo estão os dados e que é possível torná-los mais diversos até do que o mundo real.

“O viés da IA pode existir no mundo real. Num mundo virtual que espelhe o mundo real, tens as ferramentas para controlar esse viés. Podemos introduzir diversidade”, explica Huang. “No mundo real, podes recolher dados, mas não vais ver com frequência uma criança a correr à frente de um carro, ou uma queda de cinza vulcânica. Nós queremos que exista diversidade nos nossos dados, destas coisas improváveis, para podermos criar com segurança modelos robustos de IA que tenham experiência em lidar com essas situações”, esclarece.

O jornalista viajou para Munique a convite da Siemens.



Fonte: Economico – Politica

0 Comments