Banqueiros não estão preocupados com almofada de 4% para o risco do crédito hipotecário
Os responsáveis dos cinco maiores bancos – CGD, BCP, Novobanco, Santander Totta e BPI – revelaram que não estar preocupados com a exigência do Banco de Portugal de uma nova reserva de capital para prevenir perdas com imóveis dados como garantias em créditos. Os bancos deverão chegar a dia 1 de outubro de 2024 com um buffer de capital de 4% da carteira de crédito à habitação.
Os bancos afectados pela medida, que não são todos, por exemplo a Caixa Geral de Depósitos não está incluída, terão um custo estimado de 400 milhões de euros com esta medida. Sendo a estimativa por banco de entre 50 milhões a 100 milhões de euros, segundo os banqueiros. O Novobanco está no limite inferior desta banda segundo revelou Luís Ribeiro, administrador do Novobanco, que acrescentou que o banco tem um rácio de capital elevado e por isso não antevê um impacto significativo.
O administrador do Novobanco foi o único crítico da medida do Banco de Portugal, dizendo que “esta almofada não se devia aplicar, porque não reflecte a realidade portuguesa. Nós já tivemos um conjunto de medidas macroprudenciais no passado, desde logo o limite da DSTI (taxa de esforço), ou limites do prazo do crédito à habitação, ou os limites do Loan-To-Value”. O administrador do banco lembrou que o facto de a medida só se aplicar a “instituições que utilizam o método de notações internas (IRB — Internal Ratings Based)”, e que quem adopta este modelo tem custos acrescidos, apesar de trazer uma optimização do capital face ao modelo padrão.
Miguel Maya, CEO do BCP, não subscreve que seja uma medida excessiva. Os bancos em Portugal têm sido bastante prudentes, salientou o banqueiro. “Para o mercado, a medida é uma novidade, mas para quem está na banca já incorporamos reservas para esses riscos no rácio de capital. Já estamos a trabalhar claramente acima dos rácios de capital regulamentares. Esta medida não vai alterar nada no BCP, nem a política de dividendos, nem a política de investimento”, disse o CEO do banco.
O presidente da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, diz que a CGD ficou de fora porque já tem de ter mais capital para os mesmos ativos ponderados pelos risco (RWA), “os modelos internos tendem a utilizar menos capital”. Por outro lado “a Caixa tem um nível de cobertura imparidades e de overlays para fazer face a questões que possam ser previsíveis”.
Também o presidente do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, disse que a medida será “sem impacto”, quer no banco quer na sua relação com os clientes. “Se a banca trabalhasse com rácios de 9% a 10% teria impacto, mas a banca está com uma média de rácios de capital mais de 16%, por isso não vai afectar nada”.
Quer em termos de qualidade da carteira de crédito à habitação, quer em termos de valor de imóveis, não vai ter impacto, disse o CEO do Santander Totta.
Trata-se de uma reserva para risco sistémico setorial de 4%, aplicável a “instituições que utilizam o método de notações internas (IRB — Internal Ratings Based), sobre o montante das posições ponderadas pelo risco da carteira de particulares garantidas por imóveis destinados a habitação localizados em Portugal, que a instituição liderada por Mário Centeno introduz na qualidade de autoridade macroprudencial”.
Quem são os bancos abrangidos? São as instituições que utilizam o método IRB e, segundo o BdP, estas são as que têm um peso significativo no mercado de crédito à habitação em Portugal e em que os ponderadores de risco que aplicam são mais baixos do que os dos bancos que adotam o método padrão.
Os bancos terão de ter esta ‘almofada financeira’ pronta a partir 1 de outubro de 2024, com a medida, que deverá ser revista de dois em dois anos, a abranger os bancos BCP, BPI, Santander e Novobanco (os que usam a metodologia IRB, que avalia a capacidade de os clientes pagarem o empréstimo ao banco). A medida deverá obrigar os bancos afetados a colocarem de lado cerca de 400 milhões de euros.
No comunicado, a instituição liderada por Mário Centeno disse que a aplicação deste instrumento “tem uma natureza preventiva” e visa “aumentar a resiliência das instituições perante uma potencial materialização futura de risco sistémico no mercado imobiliário residencial em Portugal”.
O painel que debateu este tema intitulou-se “Para onde caminha o setor financeiro?” e participaram Francisco Barbeira, Administrador, Comissão Executiva, BPI; Luis Ribeiro, Administrador, Comissão Executiva do Novobanco; Miguel Maya, Presidente da Comissão Executiva, Millennium BCP; Paulo Macedo, Presidente da Comissão Executiva,Caixa Geral de Depósitos; e Pedro Castro e Almeida, CEO, Santander
Fonte: Economico – Politica
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