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Principal desafio no pós-pandemia é “gerar crescimento digno desse nome”, defende António Saraiva



O presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, António Saraiva, defendeu esta quinta-feira que o principal desafio que Portugal terá no pós-pandemia é gerar “crescimento digno desse nome”. O “patrão dos patrões” considera que a economia nacional deve crescer, no mínimo, 4% e que, para isso, é preciso avançar com reformas estruturais, que promovam o investimento, a justiça económica e as fusões e aquisições.

“O desafio que temos pela frente é gerarmos crescimento digno desse nome. Não nos podemos contentar em ter crescimentos de 1%. Tem no mínimo de ser de 4%. Começamos a ser ultrapassados pelos antigos países de Leste e arriscamos a ser no quadro da UE o último país em termos de produto [interno bruto]”, afirmou António Saraiva, no Observatório sobre “a Recuperação Económica depois da Covid-19”, organizado pelo Jornal Económico e pelo Crédito Agrícola.

António Saraiva entende que Portugal só conseguirá ultrapassar esse desafio e evitar ser ultrapassado pelos países do Leste Europeu no pós-pandemia se forem “criadas condições para crescimento” da economia, o que implica resolver problemas estruturais, em vez de olhar apenas para os problemas conjunturais. “O país tem de fazer as reformas que tem adiado ao longo dos anos”, argumenta.

Isso deverá passar, na sua visão, pela promoção de fusões e concentrações empresariais e pela promoção de “uma política fiscal adequada”, amiga do investimento e que permita atrair novos investidores estrangeiros ou nacionais, e que, “quer pela carga quer pela previsibilidade, dê tranquilidade aos investidores”. Acresce que o país precisa de ter “uma justiça económica que funcione e uma burocracia que não seja asfixiante”, referiu.

“O país tem de definir um plano estratégico de atuação, resolver os seus problemas estruturais, promover corajosas reformas que têm de ser feitas e olharmos o futuro de uma maneira mais risonha do que aquela em que lamentavelmente hoje nos encontramos”, frisou António Saraiva.

Pandemia veio travar desenvolvimento

O presidente da CIP reconheceu que a economia portuguesa “vinha com um crescimento anémico há vinte anos” e que a pandemia veio evidenciar que “um país não deve depender de apenas um setor de atividade” (no caso português, do turismo, que foi um dos setores mais penalizados pela Covid-19). Mas afiançou que o país estava “na senda de diversificação”, com a procura de novos mercados, em inovar e acrescentar valor aos nossos produtos e serviços.

“A pandemia travou aquele desenvolvimento que vínhamos assistido”, disse. “Esta pandemia, se há méritos que teve, foi despertar-nos dolorosamente para essas tendência, algumas delas estratégicas”.

Segundo António Saraiva, os efeitos da pandemia têm sido “terríveis” para as empresas desde março, sobretudo porque a maioria da estrutura empresarial nacional é “composta por micro e pequenas empresas”, que empregam até 10 trabalhadores, em negócios “onde os empresários acabam por ser trabalhadores por conta própria”. “Esta é a matéria-prima com que Portugal tem de gerar crescimento”, referiu.

“Obviamente que esta tipologia empresarial está fortemente penalizada, de março de 2020 para cá, porque muitas delas estão encerradas por decisão oficial para combater a pandemia e preservar a saúde pública e outras têm significativas reduções das suas faturações”, indicou, notando que, apesar de o setor turístico e a restauração terem sido os mais atingidos, a pandemia atingiu todos os setores de atividade.

Num tom otimista, António Saraiva sublinhou que, com a chegada das vacinas, começa a “existir um sinal de esperança” e que, com essa esperança, começa-se a instalar a confiança e à medida que o país for desconfinando deverá aumentar o consumo e a procura, e com isso virá a recuperação económica.

O “patrão dos patrões” alertou ainda para a necessidade de se aproveitarem devidamente os fundos comunitários que deverão começar a chegar em junho e sublinhou que o programa PT2020 ainda tem 11,2 mil milhões de euros para serem “corretamente utilizados” e o Quadro Financeiro Plurianual tem “cerca de 28 mil milhões que têm de ser agilizados e bem orientados” nos próximos anos.



Fonte: Economico – Politica

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