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Políticos no poder têm valores mais saudáveis em tempos de crise



Os Estados Unidos tornaram-se o país com maior número de casos de infeção na pandemia de Covid-19, levando o presidente norte-americano a deixar de subestimar o “vírus chinês” e a admitir que 200 mil pessoas morrerão mesmo que tudo corra tão bem quanto possível, o que torna mais insólito que a aprovação de Donald Trump tenha subido ao nível mais elevado desde a sua eleição.

Mantendo intacta a base de eleitores republicanos, Trump ganhou terreno entre os independentes – essenciais para reeleger-se nas presidenciais marcadas para um 3 de novembro que parece ainda mais distante –, e também junto de alguns democratas que em 2016 lhe permitiram inesperadas e decisivas vitórias sobre Hillary Clinton no Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. Algo que levou o “The New York Times”, habitualmente integrado na “carinhosa” categoria de “inimigo do povo” pelo presidente dos Estados Unidos, a questionar-se sobre a identidade daqueles que estão por detrás dos níveis de aprovação mais elevados. O certo é que, apesar do consenso generalizado de que outro presidente teria uma melhoria bastante maior nestas circunstâncias, podendo subir até dez pontos percentuais, encontrou-os um pouco por todo o país, justificando que a última sondagem da ABC e “Washington Post” ponha Trump a dois pontos percentuais do provável rival democrata Joe Biden (49%-47%) quando antes havia um fosso de sete pontos a separá-los.

Não é o único líder sob muita contestação a sair beneficiado junto da opinião pública com a maior crise de saúde pública do século XXI. Ainda menos popular no seu país do que Trump na América, o presidente francês Emmanuel Macron suplantou a barreira dos 40% de avaliações favoráveis, num máximo de dois anos.

Por seu lado, a chanceler Angela Merkel, que lidera a resposta à pandemia na Alemanha, naquele que será o seu último mandato, sobe aos 79% de opiniões favoráveis, e nem o facto de Itália ser o país com maior número de vítimas de Covid-19 impede Giuseppe Conte de alcançar 71%, um recorde de aprovação a um primeiro-ministro numa década.

Partidos acima dos 50%
De igual modo, as sondagens das últimas semanas dão indicações muito positivas a diversos partidos no poder, com os democratas-cristãos alemães da CDU e CSU a alargarem o que era até há pouco tempo uma ténue vantagem sobre os Verdes, chegando aos 33%, apesar de ainda estarem à procura de um sucessor da sucessora de Merkel, e o Partido Conservador, que tem consigo um em cada dois eleitores britânicos, com 54%, que seria o melhor resultado desde 1931 e levaria, devido ao sistema eleitoral assente em círculos uninominais, a uma maioria esmagadora.

É igualmente essa a tendência em países como a Hungria, com o Fidesz acima dos 50% nas intenções de voto, numa altura em que o polémico primeiro-ministro Viktor Orbán obteve autorização para governar por decreto, ou a Polónia, com o presidente Andrzej Duda, ligado aos conservadores do Partido Lei e Justiça, a ter praticamente garantida a vitória na primeira volta que, apesar da pandemia – e das críticas da principal candidata da oposição, Malgorzata Kidawa-Bionska – continua marcada para 10 de maio.

Mas também há partidos no poder incapazes de capitalizar com a crise de saúde pública – precisamente aqueles que estão entre os mais atingidos pela pandemia. Em Itália, apesar da popularidade de Conte, o Partido Democrático e o Movimento 5 Estrelas não descolam nas sondagens, mantendo-se aquém do bloco de direita (Liga, Irmãos de Itália e Força Itália), enquanto em Espanha o PSOE de Pedro Sánchez e o Unidas Podemos de Pablo Iglesias estagnam por entre o caos, provando-se que quem está no poder só é “ativo de refúgio” para o eleitorado até ao momento em que este faz o julgamento da atuação durante a crise.

Artigo publicado no Jornal Económico de 03-04-2020. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor



Fonte: Economico – Politica

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